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Um ensaio sobre o alcoolismo, por J. Lynn Bailey


Pedimos a J. Lynn Bailey, autora de Depois da Tempestade, que escrevesse algo a respeito do alcoolismo, e ela nos enviou um depoimento honesto sobre o assunto que emocionou toda a nossa equipe. Confira:


Sou americana.


Sou descendente de europeus, com pele clara, olhos azuis e sardas no nariz. Aquelas que minha mãe sempre explicava, porque eu as detestava quando criança, que eram beijos de anjo.


Sou mulher.


Sou bem-educada.


E sou uma alcoólatra de quarta geração.


Pensei que, de alguma forma, misericordiosamente e milagrosamente, o gene do alcoolismo havia me ignorado.


Eu não poderia estar mais errada.


Tomei a primeira bebida na oitava série. Era uísque e queimou minha garganta, mas eu não me senti viva ou melhor - foi só um gole, e eu segui meu caminho.


Foi só no ensino médio que percebi que comecei a beber de forma diferente das minhas amigas. Nesse período, também comecei a sentir vergonha de beber.


Eu apagava nas festas. Agia como uma tola ou simplesmente desmaiava - aquelas eram as noites boas.


Mas eu também seguia em frente.


Joguei basquete e tinha boas notas. Entrei na faculdade. Joguei basquete universitário.

Durante toda a minha vida, me senti estranha. Eu sempre pensei:


-Você está bem comigo?

-Você gosta de mim?

-Sou boa o suficiente para você?

-Por favor, o que posso fazer para te agradar?

-Sempre busquei aceitação.

-Sempre me rebaixei.


Mas algo aconteceu muito rápido. Foi absolutamente mágico. De repente, quando bebia, ficava mais bonita, mais magra e mais inteligente. As inseguranças se dissipavam e minha falsa sensação de confiança aumentava. Na verdade, com o álcool, não me importava o que qualquer um pensava de mim.


Eu me sentia invencível.


No meio da faculdade quando minhas bebedeiras de fim de semana se tornaram cada vez mais frequentes, comecei a beber durante a semana.


Entre o vinho e o uísque, eu me mantinha bem.


Então comecei a esconder o álcool do meu marido.


Comecei a mentir sobre meu hábito de beber.


Eu bebia antes das festas para que as pessoas não soubessem o quanto eu bebi.


Eu escondia garrafas no armário e na garagem.


Então começamos a ficar em casa e não sair mais. Para ser franca, acho que foi porque meu marido ficou envergonhado por eu beber. E funcionou a meu favor, porque então eu poderia beber da maneira que eu quisesse. FINALMENTE!


E um dia, eu estava na faculdade, tinha uma casa grande e bonita, uma carreira... mas quando me olhei no espelho vi uma mulher arrasada, com um problema com bebida. E fiquei absolutamente apavorada.


Naquela época, eu ligava para o trabalho dizendo que estava doente, assim podia ficar em casa e beber.


Só os alcoólatras bebem no trabalho, certo? Errado.


Meu marido viajava muito a trabalho, então, quando ele saía, eu começava a minha rotina.


Eu ficava sóbria na quinta-feira para sua chegada na sexta.


Em um determinado dia, quando ele saiu e eu estava em casa bebendo, fui até o banheiro cambaleando e olhei para meu reflexo com atenção. Eu podia ver que as veias estavam evidentes por ter vomitado. Mas o mais importante, eu vi aquela mesma garotinha perdida que buscava aceitação, e ela me disse: "você é uma alcoólatra e precisa de ajuda".


Eu realmente tentei permanecer assim, porque era muito mais fácil viver em negação do que enfrentar os danos que eu causei.


E é aqui que a graça de Deus entra - foi um dia de Páscoa estranhamente quente. Eu estava tremendo desde a noite anterior e só precisava de uma bebida para acalmar meus tremores e me aliviar do fardo da vida. Enquanto eu estava no armário escuro e tomei um gole de uísque, algo aconteceu - ou nada aconteceu. O álcool parou de funcionar para mim.


Não senti alívio algum.


Esse é o fato astuto, desconcertante e poderoso sobre esta doença: bebi por mais sete meses, tentando ter de volta aquela sensação boa, mas ela nunca mais voltou.


Me obriguei a olhar para a mulher no espelho todas as manhãs. Eu disse a ela que morrer seria mais fácil que isso.


Eu sabia que o álcool era meu dono.

Ele controlava quando eu me levantava.

O que eu fazia.

O que eu dizia.

Se eu ia trabalhar ou não.

Se eu comeria naquele dia.


Em 8 de novembro de 2009, aos 29 anos de idade, cheguei ao fundo do poço. Não quero me esquecer nunca disso, mas vou poupá-lo de todos os detalhes.

Com o que fiz naquele dia, meu marido achou que deveria me colocar no programa de 12 passos do AA, chamar um médico e metade dos moradores da cidadezinha em que moramos!


Em 9 de novembro de 2009, embarquei em uma bela jornada de sobriedade e recuperação.

Não bebo há pouco mais de onze anos.


Muitos milagres aconteceram em minha vida.


Tenho um lindo relacionamento com meu marido.


Tenho dois filhos incríveis que nunca me viram beber.


Ainda tenho a mesma casa grande e bonita, os mesmos carros, uma carreira e uma vida incrível.


Eu não sabia que tinha uma doença. Eu não sabia que aquela menina de 12 anos que tomou seu primeiro drinque na oitava série se tornaria um monstro. Mas ela se tornou.


E o mais maravilhoso de tudo: eu consigo olhar para aquela mulher arrasada no espelho todos os dias e ver como ela se tornou inteira e feliz.


Por isso, sou eternamente grata.


A parte mais difícil dessa doença é admitir que você tem um problema. A segunda é chegar ao fundo do poço. Algo que vai te dar a força e a clareza para ficar e permanecer sóbria.


Se você tem problemas com a bebida, espero que encontre os três:


1. Aceitação

2. Um fundo do poço

3. Recuperação


J. Lynn Bailey.

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